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Marilia e Alexandre

FOTO: MELISSA BUENO

RELATO DE PARTO (ANTES DO HEITOR)

Te convidamos a conhecer a história da nossa família e a reviver conosco, essa atmosfera tão emocionante que envolve o nascimento. É longo, eu sei… rsrsrs. Prepara o coração, tá?

Eu já era mãe do Davi e, desde a gravidez dele, desejamos muito ter um parto natural! Eu já acompanhava esse universo materno há algum tempo…
Havíamos assistido o Renascimento do Parto, dentre outros documentários.
Então, escolhemos uma médica que apoiava nossas escolhas e entendia o parto como um evento natural.

Entrei em trabalho de parto com 40s3d e a cardiotoco mostrava que os batimentos cardíacos do Davi estavam sem variabilidade. Como o TP ainda não tinha evoluído muito (5cm em 13hrs de bolsa rota, com contrações ritmadas desde o início) a cesárea foi indicada.

Na hora deu uma tristeza por não poder realizar o sonho, mas decidi que não iria sofrer pois aquele era o dia mais feliz da minha vida: iria ter meu filho nos braços e assim foi. Davi nasceu saudável e fiquei com aquele gostinho de quero mais; sabia que numa próxima gravidez iria querer novamente um PN.

Nessa minha 1ª experiência de nascimento no hospital, passamos por algumas situações não muito humanizadas: não tivemos a nossa Golden Hour, levaram o Davi para o berçário, fiquei sozinha na recuperação e não pude amamentá-lo nas primeiras horas.

Mesmo tendo uma excelente equipe ao nosso lado, esbarramos nos protocolos hospitalares e no modo frio e distante de alguns profissionais. Decidimos, então, que da próxima vez seria diferente!

Ao descobrir a gravidez do Heitor, buscamos uma médica que atendesse em outra maternidade e lá fomos nós: fazer a famosa visita à maternidade – e novamente encontramos alguns protocolos hospitalares que não concordávamos.

Certa vez, ouvi de um obstetra algo que me deixou intrigada: ‘quando nós estamos na casa de uma pessoa, seguimos as regras daquela casa; e que quando estamos em um hospital, seguimos as regras daquele hospital’. Essa frase ficou ecoando alguns meses na minha cabeça e foi isso que me fez repensar a escolha de um parto hospitalar.

Eu desejava um parto domiciliar, porém achava que seria muito caro e que não poderíamos pagar. Mesmo assim, decidimos ir em um encontro do grupo Quatro Apoios ?, daqui de Curitiba, e ao final não tínhamos mais dúvidas.
Iríamos ter o nosso Heitor na nossa casa, com as nossas regras do nosso jeito.
|NOSSA CASA, NOSSAS REGRAS| – e sim, conseguiríamos pagar!

A gravidez do Heitor foi tranquila, porém sentia muito cansaço. Fiz o pré-natal com minha médica pelo plano e a partir das 36 semanas comecei o acompanhamento semanal com as enfermeiras obstetras do grupo
@quatroapoios.

Desde as 36 semanas comecei a ter os pródromos, passei algumas madrugadas com cólicas fraquinhas e contrações, mas nada que pegasse o ritmo. Algumas noites dava aquela ansiedade, achando que tinha chegado a hora, mas logo percebia que era só o corpo trabalhando e dando sinais que logo o Heitor chegaria.

Na quarta-feira (dia 10/07) tive a última consulta com a médica, que me liberou, pois sabia que eu estava sendo acompanhada pelas enfermeiras, e brincou que da próxima vez que me visse eu já estaria com um bebê no colo! Naquele mesmo dia, tivemos uma consulta domiciliar com uma das enfermeiras do grupo Quatro Apoios ? que, além de fazer todos os exames, conversou bastante com a gente sobre amamentação e tirou muitas dúvidas! Foi um encontro super gostoso!

Na madrugada do dia 11, às 02h30, levantei para fazer xixi, nada fora do normal para uma grávida, e ao olhar no vaso sanitário percebi uma cor escura.
No papel higiênico também tinha um líquido escuro – era a bolsa que havia rompido e eu não tinha percebido! Me assustei, pois sabia que era mecônio e na hora já acordei o marido. Deu uma tristeza, com a possibilidade de precisar ir para o hospital e até para uma cesárea (de novo! ?), além do risco do bebê estar em sofrimento fetal.

Liguei na mesma hora para a Cris (enfermeira obstetra) e avisei a doula para ficarem em prontidão. Fomos arrumar algumas coisas e tomei um banho para relaxar (as contrações estavam começando a doer). A Cris chegou por volta das 03h30, ouviu o coração do Heitor e me tranquilizou, pois ele estava bem!

Ao fazer o toque (o 1° da gestação toda) eu já estava com 4cm de dilatação.
Ela verificou a espessura do líquido e me explicou que como o mecônio estava bem líquido, não seria necessário ir para o hospital. Ela ficaria monitorando os batimentos cardíacos do Heitor e, apenas se os batimentos apresentassem alteração ou se o líquido ficasse espesso a gente teria que se preocupar, mas que estava tudo bem com a gente!

Incrível como ter uma pessoa de confiança assim ajuda a gente nesse momento: eu consegui me acalmar e relaxar. Como o TP estava só começando, a enfermeira sugeriu que eu me deitasse e tentasse descansar para guardar energia e assim fizemos.

Não conseguia dormir, pois as contrações estavam um pouco doloridas e a cabeça estava a mil! Mas fiquei deitada, fazendo orações e conversando com o meu Heitor, dizendo que estava tudo prontinho esperando por ele. Às 06h00, eu já estava incomodada com as contrações, então fui para o chuveiro e fiquei quase uma hora lá ouvindo as músicas da minha playlist, rebolando na bola de Pilates e conversando com meu bebê. A água quente aliviou as dores e as contrações acalmaram.

Às 07h00 sai do banho, meu filho mais velho e meu marido acordaram, fizemos um chimarrão e fomos tomar café da manhã: vimos o nascer do sol da janela da sala juntos; nos abraçamos felizes, pois havia chegado o dia de conhecer o segundo pedacinho do nosso amor.

A Cris estava monitorando os batimentos do nosso bebê de hora em hora e, como estava tudo bem, eu fiquei tranquila e seguindo a vida normalmente (rsrs). Ela precisou sair rapidamente, mas fiquei tranquila, pois combinamos que se o ‘bicho pegasse’ a gente a avisava.

Fomos tomar café, mas as dores voltaram e estavam mais fortes: já estava difícil dar atenção para o filho mais velho, por isso deixamos ele na casa dos vizinhos para brincar com o amiguinho e para podermos nos concentrar no TP.
Avisei os amigos e familiares que o Heitor estava querendo chegar. Como não consegui terminar o café da manhã, resolvi voltar para o chuveiro.

Era 09h00 quando entrei no banho (foi a última vez que olhei as horas… depois disso esqueci de tudo… hehehe, e só sei dizer os horários pois está tudo registrado no prontuário das enfermeiras). O Alexandre estava enchendo a piscina de água e não podia ficar comigo. Quando ele entrava no banheiro para ver como eu estava, eu reclamava que ao abrir a porta ficava muito frio.

Ele percebeu que eu já estava ficando menos amistosa e resolveu entrar no chuveiro comigo para fazer massagens e me dar um apoio. As dores estavam aumentando, pedi que ele ligasse para a enfermeira, avisando que a coisa estava ficando séria e que chamasse a doula @doulatamaraantochecen também (precisava muito da massagem dela, só a água quente do chuveiro já não estava mais me aliviando).

Tive vômito e diarreia: o corpo estava limpando tudo e se preparando para o nascimento do nosso Heitor – a natureza é perfeita!

A Cris retornou, ouviu os batimentos e estava tudo ótimo; fez o segundo toque e já estava com quase 6cm. Que alegria! Estava evoluindo bem e eu tentava me lembrar sempre que, a cada contração era uma mais perto da chegada do Heitor. Meu corpo estava trabalhando e que estava prestes a viver o momento mais lindo da minha vida!

Perto das 10h00, meus pais chegaram e minha mãe já foi fazer o chá da Naoli para me ajudar a dar energia… pena que assim que tomei, vomitei todo o chá ?…

A Tamara (@doulatamaraantochecen) também chegou perto das 10h00 e senti um alívio enorme em ter ela ali conosco. Fiquei me movimentando o tempo todo: quando as contrações vinham, ficava na posição de quatro apoios ou de cócoras.

Em algum momento, que eu não sei dizer, percebi a presença da Karen (outra enfermeira do grupo) e sabia que isso queria dizer que estava perto. Pois quando a enfermeira percebe que o nascimento está próximo, ela aciona a segunda enfermeira da equipe para estar presente e auxiliar no momento do parto (para cuidar da mãe e do bebê – uma importante vantagem de termos contratado um grupo tão experiente de Parto Domiciliar ?). Lembro que, durante a gravidez, eu dizia que eu ficaria tão feliz quando a segunda enfermeira chegasse! Mas no dia, não pude nem comemorar a chegada da Karen, pois eu já estava imersa na partolândia e mal conseguia formar uma frase completa!

O Davi (nosso filho mais velho) voltou da casa dos vizinhos e ficou o tempo todo ao meu lado, brincando, fazendo carinho e cuidando de mim. A fotógrafa @mel_bueno_fotografia também chegou e completou o nosso time!

As horas passaram e nos intervalos das contratações eu ainda conseguia conversar um pouco. Mas quando as ondas vinham, eu só queria as mãos de anjo da Tamara (doula) nas minhas costas para me aliviar. Além das massagens, a Tamara me dava água de coco, mel e outras coisinhas para comer, pois sabia que eu não tinha comido muito bem e que já tinha posto tudo para fora (rsrs). Ficamos na bola, sempre procurando alternar de posições para ajudar na evolução do trabalho de parto.

Por volta das 11h30, nada mais ajudava e eu estava com muita dor e cansada. Sentia uma vontade absurda de fazer cocô e dizia para todo mundo que eu tinha que ir ao banheiro. Só depois de algum tempo, eu percebi que aquela vontade só vinha durante as contrações e depois passava… era a famosa vontade de fazer cocô que tanto lia nos relatos de parto. Acreditem, na hora parece que a gente esquece de tudo, por isso é muito importante ter pessoas que conheçam você e suas vontades para aquele momento!

Pedi para ir para a piscina. Ao entrar naquela água quentinha, foi alívio imediato! Eu só conseguia pensar que ninguém me tirava dali… kkkk. A piscina estava no nosso quarto: ligamos o ar condicionado na temperatura bem quente, pois aquele dia frio de inverno estava congelando. Ficamos ali por algum tempo, e eu já não conseguia respirar direito durante as contrações; parecia que estava em outro mundo. O marido estava do lado de fora da
piscina, me apoiando com o rebozo: quando vinham as contrações eu ficava de cócoras dentro da água e me apoiava nele.

Aos poucos, começou a vontade de fazer força: sentia uma pressão enorme lá embaixo e uma dor absurda no cóccix (haja massagem da doula para aliviar).
Pedi que chamassem meus pais (eles estavam na cozinha fazendo o almoço e providenciando um apoio para toda equipe). Queria que eles estivessem perto na hora do nascimento. Foi muito bom ter eles ao meu lado – me sentia amada e protegida por todos ali! Pairava uma paz naquele quarto e o clima era de festa!

Comecei a fazer força e pedi que o Alexandre entrasse na piscina (desde o nascimento do Davi, ele dizia que ele queria ser o primeiro a pegar nosso filho).
Ele entrou e ficou me apoiando nas costas. A enfermeira obstetra Karen, do grupo Quatro Apoios ?, me ajudava no rebozo.

Senti uma fraqueza (minha pressão sempre é baixa); acho que a água quente e o estômago praticamente vazio pioraram a situação, e eu sentia que ia desmaiar. A equipe providenciou umas compressas de água gelada para me refrescar e isso ajudou muito (além das comidas que a Tamara colocava na minha boca).

Comecei a vocalizar mais alto, percebi que o Davi se assustou um pouco, mas quando as contrações davam um intervalo eu explicava para ele que a mamãe estava com dor, mas que estava tudo bem. Que eu estava muito feliz pois o Heitor estava chegando; ele ficou do meu lado o tempo todo e não quis sair dali por nada. Ele ficava jogando água nas minhas costas e fazendo carinho.

Depois de algumas forças (nem sei quantas) senti o famoso círculo de fogo, parecia que estava queimando tudo lá embaixo.

A dor estava muito forte e eu mal conseguia respirar e falar. A Cris pediu que eu levantasse da banheira para ela monitorar os batimentos cardíacos do Heitor mais uma vez (lembro que fiquei brava com ela mentalmente, pois não queria que me tirassem da água por nada… rsrs).

O que me ajudava era quando alguém dizia: “ele já está chegando, vem Heitor”! Isso tirava um pouco o foco da dor (parece que não, mas na hora a gente esquece de tudo, a dor toma conta da gente, é uma loucura mesmo). Fiz algumas forças (não sei quantas) e sentia que já estava chegando. Numa dessas forças, eu fiquei quase em pé, apoiada no rebozo e aí ele coroou. Eu queria ficar de cócoras de novo, mas não conseguia mudar de posição, era o Heitor que já estava ali.

Ouvi aquela comemoração toda: a cabecinha dele havia saído e o Alexandre estava amparando atrás. Me apoiei na borda da piscina e ouvi a Karen me dizer a frase mais esperada de todas: “na próxima contração ele já vem pro teu colo”! E ela estava certa: na contração seguinte, nosso filho finalmente nasceu!

12h49 do dia 11/07, meu Heitor nasceu e eu renasci. Foi uma experiência muito louca: eu não conseguia acreditar que tinha conseguido – um misto de sentimentos (alívio, amor, alegria) tomou conta do quarto. Nossa família estava completa. ? O Alexandre pode pegar nosso filho ao nascer e me entregar.
Aquele chorinho, aquele cheiro… como eu tinha sonhado com aquele momento e agora era real. Sai da piscina e fui para cama com minha cria nos braços, me sentia a mais incrível e poderosa das mulheres! ?

Levou algum tempo para a placenta nascer. Também precisei levar alguns pontos, pois tive laceração grau 2. Foi incômodo (mesmo com anestesia local), mas eu estava tão feliz e eufórica com meu filho mamando, super saudável, que nem me importei muito. Após ele nascer, foram todos almoçar uma comidinha deliciosa que minha mãe havia preparado. Comi uma canja que ela havia feito e fiquei o restante da tarde ali na cama, com ele nos meus braços.

O Heitor foi pesado e medido (3,335kg e 51cm), teve nota Apgar 9/10 e é a prova de que apenas a presença de mecônio no líquido amniótico não significa sofrimento fetal. Com um bom acompanhamento profissional é possível ter um parto natural, mesmo após uma cesárea.

A recuperação foi difícil nos primeiros dias – tive desmaios, dor no cóccix, além do incômodo do períneo. Mas a partir do 10° dia já me sentia muito bem. Acho importante relatar isso, pois nem tudo são flores e essas coisas podem acontecer, é bom a gente estar informada e bem amparada (nós estávamos)!

Valeu a pena, não tem como explicar como é bom parir. Se pudesse, queria reviver esse dia, pois é um momento lindo e único. Estar na minha casa, no meu quarto, rodeada das pessoas que eu amo e de profissionais competentes e amorosas fez toda a diferença. Meu filho mais velho pode presenciar tudo e para ele foi algo tão natural que ele conta para todo mundo que o maninho nasceu na piscina e que ele viu tudo. ??

Sobre a dor: eu tinha receio de não aguentar, de pedir para ir para o hospital.
Até conversei com o marido antes, dizendo para ele não deixar eu desistir; que se estivesse tudo bem comigo e com o bebê ele não podia me deixar desistir.
Mas na hora, eu não pedi para ir para o hospital e nem por anestesia.

Sei que cada pessoa tem uma experiência diferente, vive as coisas de maneira diferente. Só posso relatar a MINHA experiência e dizer que foi a coisa mais linda que já vivi. Logo após o nascimento, meu esposo estava tão ‘ocitocinado’ que soltou a seguinte pérola: “amor, desse jeito, vamos ter mais 3?”

Só temos o que agradecer às enfermeiras do Grupo Quatro Apoios. Todas vocês foram fundamentais para o nosso parto ser possível. Mesmo as que não estavam presentes fisicamente no dia do parto, fizeram parte da nossa história e seremos sempre gratos pela dedicação e carinho dados a nossa família.
Vocês são demais, mulheres maravilhosas!